domingo, 2 de novembro de 2014

MENOS UM

Coração
Síncope de vida e morte
Pressinto que, com sorte
Hás de me deixar em paz
Em breve

Coração
Que queres de mim?
Por que me fazes sentir assim?
Amar assim?
Desamar, por fim?
Como te atreves?

Coração
Renuncia, órgão maldito!
Acaba com essa orgia
De sentimentos e ressentimentos em agonia
Acata este mandado
Ora, por quem me tomas?
Sou teu patrão, não teu criado!

Coração
Quero-te quieto, silente
E tu vens irrequieto, dobrando
E retumbando em meu peito
Com vigor adolescente!?
Insolente!

Coração
Dá jeito
Acomoda-te em teu leito
E dorme, como um doente
Pra eu descansar no meu
Feito indigente

Coração
Teu mister é alternar
Vida e morte
Num soluçar entediante
E, desta sorte
Galopar sôfrego
Até não suportar

Pois não hesites, então
Coração
Abrevia tua sofreguidão
É o teu senhor quem ordena
Não faças mais “tum”
Estou realmente farto de tua cantilena
Amanhã, pretendo ser menos um
Sem mais dores, nem amores
Apenas, talvez, flores.

Nenhum comentário: