Como se poderia explicar o curioso fenômeno do “servidor público de direita”? Um trabalhador que vive do Estado, mas que odeia o Estado. Que ama a iniciativa privada, mas evadiu-se dela do jeito que pôde. Quem é este ser mitológico que não se explica pela lógica?
No mais das vezes, esse contraditório personagem já vivenciou os horrores de um emprego na iniciativa privada, provou de toda a insegurança, instabilidade, exploração e desrespeito inerentes à realidade de um trabalhador de “carteira assinada”. Até que, um dia, o cidadão – de direita, frise-se – desiste de ser escravo e parte em busca de uma alternativa profissional mais digna: o serviço público, onde ele encontrará, por certo, condições mais humanas de trabalho, remuneração razoável, estabilidade e segurança. Deveras legítimo, mas de uma incoerência acintosa para uma pessoa de direita.
A direita é a ideologia que representa politicamente o capitalismo, sistema que cria, promove e alimenta todo aquele cenário de horrores, à vista do qual, desesperadamente, nosso insólito personagem bateu em retirada, buscando o abrigo e a segurança do serviço público. Então, impõe-se a pergunta: o que faz com que o nosso personagem, o magnânimo “servidor público de direita”, deseje para o outro o que julgou indigno para si? O que faz com que ele eleja os agentes políticos representantes do Capital, que não fazem senão beneficiar este mesmo Capital, em prejuízo, sempre, do trabalhador? O que passa na cabecinha esquizofrênica desse serzinho sui generis, que, apoiando os partidos de direita, impõe o pior do capitalismo aos demais trabalhadores, enquanto assiste, com regozijo, do conforto de seu camarote estatal, à barbárie de que escapou?
Alguém poderia me explicar tal anomalia de comportamento? Egoísmo, covardia, caráter duvidoso, dissonância cognitiva, indigência intelectual, burrice? Com a palavra, algum “servidor público de direita”.
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