sábado, 28 de janeiro de 2012

EIS O MALDITO

Sérgio Sampaio
O maldito entre os malditos; o poeta marginal; o proscrito; aquele que disse "tanto limão pelo chão" e desafiadoramente botou o seu bloco na rua no auge do regime militar; aquele que amargou, durante a maior parte da sua trajetória profissional, um cruel e melancólico degredo artístico. Sérgio Sampaio. Ele está VIVO!

Em verdade, o cantor e compositor capixaba morreu em 1994 (as drogas, o álcool e a boemia levaram-no prematuramente, aos 47 anos), sem o devido reconhecimento da crítica nem do público. Com exceção do seu primeiro e único sucesso, a marcha-rancho Eu quero é Botar Meu Bloco na Rua, que estourou no VII Festival Internacional da Canção, em 1972, cujo compacto vendeu mais de 500 mil cópias, sua produção musical foi muito pouco difundida, pouco comercializada, e é, hoje, uma grande incógnita para a maioria das pessoas. A bem da verdade, Sampaio nunca se deixou mercantilizar, talvez, por isso, tenha sido pouco consumido.

A trajetória errática do artista, no entanto, jamais o intimidou, tampouco o impediu de produzir um repertório musical de qualidade superior. Sérgio Sampaio foi um exímio compositor, poeta intenso, e dono de um estilo singular de interpretar. Suas canções são impregnadas de lirismo e indignação. Indignação, essa, que o elevou a expoente máximo do seleto grupo dos malditos da MPB nos anos 70, juntamente com Raul Seixas, Tom Zé, Luiz Melodia, entre outros. Sampaio é metafórico, sanguíneo, não-linear. E, talvez, em razão desses traços - fundamentos de sua obra, tanto quanto de sua vida - muitos não o tenham compreendido, embora sua arte mereça, antes mesmo de ser compreendida, ser sentida.

A indiferença da indústria fonográfica dos anos 70 e 80 asfixiou o grande artista, sonegando-lhe o justo e necessário reconhecimento, mas o seu legado esta aí, VIVO!, para todo aquele que o quiser sentir, conhecer e reconhecer, ainda que tardiamente.

P. S.: hoje, graças à Internet, o acesso à música de Sérgio Sampaio independe de atravessadores parasitas e de aquisições onerosas - está tudo na teia. O site UM QUE TENHA disponibiliza todos os discos de Sérgio Sampaio para download. Lá em cima, no ESCUTA ESSA!, uma das minhas preferidas. Confira e tente ficar indiferente.

sábado, 21 de janeiro de 2012

DEVANEIO

Há quem acredite que o pronto arrependimento, seguido de um sincero pedido de desculpas, é a mais perfeita e incontestável justificativa do erro. E seguem errando, arrependendo-se e desculpando-se...

SAÍDA PELA DIREITA

Senhores, por favor, entendam: venho reiteradamente externando o meu hodierno antipetismo sempre que considero oportuno, e o tenho feito, com total desassombro, face aos rumos, a meu ver equivocados, que a agremiação trabalhista (?) tomou. Mas não é por isso, caríssimos, que deixei de ser de esquerda (nunca me senti tão canhoto como nos tempos atuais). O PT, sim, é quem o fez, de maneira abjeta e desavergonhada, traindo-nos, não só a nós, eternos esquerdistas, mas a sua própria história.

Portanto, caros direitistas e antipetistas, não me tomem por compadre só porque tenho a coragem de criticar o que um dia defendi ardentemente, embora, na essência, nunca tenha defendido o partido em si, mas a causa que ele representava. Fui petista enquanto identifiquei no partido a sintonia com a causa socialista, da qual sou, ainda, partidário, e cuja bandeira o PT, hoje, não mais hasteia. Política é razão e coerência, jamais paixão e idolatria. Como eu poderia seguir num barco que me leva pra longe de casa?

Sinto, senhores, caso os tenha decepcionado, mas a crítica que eu faço ao PT é dirigida à sua postura conservadora e reacionária de então, o que eu condenarei em qualquer sigla, em qualquer pessoa, em qualquer idéia. Sempre. Até mesmo nos partidos políticos de direita - o PT entre eles.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

FIM DOS TEMPOS

Olhem só de que maneira bizarra eu recebi a minha Caros Amigos deste mês, hoje!! Atentem para o invólucro! É, no mínimo, perturbador.

Seria o sinal do fim dos tempos?

2012 promete!

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

SOBRE ACHADOS E EVACUAÇÕES LITERÁRIAS

Vasculhando as abarrotadas prateleiras da velha Tabacaria Globo, em Tramandaí - a capital das praias gaúchas -, encontrei, quase anônimo entre amarfanhadas Sabrinas, Júlias e um sem-número de gibis usados, o livro acima, por apenas 19 pilas! Foi um belo achado. Trata-se de um magnífico guia literário, onde se pode saber da vida, da obra, dos estilos e das influências dos mais notáveis romancistas, poetas, dramaturgos, filósofos e ensaístas de todos os tempos. São 501 autores, apresentados em ordem cronológica, e suas respectivas microbiografias, que podem despertar no leitor o desejo de conhecer mais a fundo os grandes mestres da literatura universal e suas obras não menos grandiosas, promovendo um indispensável primeiro contato para se estabelecer tal relação.

O livro possui 640 páginas, todas em papel cuchê e coloridas, com fotos dos autores e muitas outras ilustrações. A compilação foi organizada por Julian Patrick, professor de inglês e de literatura comparada da Universidade de Toronto, e a tradução para o português da edição brasileira ficou a encargo de Livia Almeida e Pedro Jorgensen Junior.

Nota negativa: por ter sido produzido em Londres, a literatura brasileira foi pouco e mal abordada. Na edição original inglesa, apenas Machado de Assis, Jorge Amado e, pasmem, Paulo Coelho (entendem, agora, o porquê do "mal abordada" da frase anterior?) eram referidos. Nesta edição, publicada pela editora Sextante, foram incluídos mais 24 autores brasileiros, embora tratados de maneira muito superficial (eles bem que poderiam, para o bem da nossa literatura e preservação da nossa dignidade, ter suprimido o capítulo referente ao "mago", mas...).

Não estou querendo afirmar que a literatura brasileira ocupe um inequívoco lugar de destaque entre as grandes escolas literárias mundiais - tais como a russa, a inglesa e a francesa. Absolutamente. A meu ver, apenas Machado de Assis, Guimarães Rosa e, talvez, Carlos Drummond de Andrade, entre os nossos, assim o fariam com pleno merecimento. Apenas acho que a obra torna-se mais palatável para nós, brasileiros, se depararmos com semblantes familiares do nosso cânone literário, que, admitamos, possui valores respeitáveis e admiráveis - entre os quais, indubitavelmente, não se pode admitir a presença degradante de Paulo Coelho.

De resto, um grande material para consulta e degustações aleatórias. Ótimo para se ler no banheiro; eu, por exemplo, estou lendo um autor por evacuação (quando fazer merda torna-se um prazer intelectual).

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

OS SEM-TETO PÓS-MODERNOS (A CASA CAIU)

O capitalismo continua produzindo os seus "sem-teto". E o PT não poderia, mesmo, deixar os seus desassistidos. Certo?

Correio Braziliense - 08/01/2012

Correio Braziliense - 09/01/2012

Correio Braziliense - 10/01/2012

Correio Braziliense - 11/01/2012

Certíssimo!

Quanto aos verdadeiros servidores públicos - aqueles que realmente trabalham e se encontram, de fato, subordinados às rígidas consolidações legais vigentes -, o teto, há tempo, já despencou sobre suas cabeças, junto com a casa.

Esse é o PT dos dias atuais, que alguns incautos ainda acreditam ser um partido de esquerda...

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

URUGUAI II


Ah!! Retomando a penúltima postagem, invejo demais os uruguaios porque lá, no Uruguai, não tem Michel Teló...

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

ARISTOCRATAS DE PROVÍNCIA


Desconcertou-me a expressão "aristocratas de província", proferida por Bazárov, personagem central do romance Pais e Filhos, do russo Ivan Turguêniev, cuja leitura encerrei a pouco e recomendo. O dito, por si, já me bastaria para valer a leitura, embora o livro vá muito além dele, o que o torna uma obra literária valiosíssima.

A condição de aristocracia de província outorgada por Bazárov, um jovem estudante de medicina e um niilista inveterado, às pretensas altas castas interioranas da Rússia qualifica com perfeição e requinte as classes afetadas e esnobes com as quais deparamos até mesmo nos mais longínquos vilarejos, nas mais distantes aldeias, nos arrabaldes do mundo (e também aqui, na minha cidade, a teuto-riograndense Taquara do Mundo Novo). E nessas inimagináveis terras de cegos, ciclópicos seres prevalecem-se, supondo-se reis. Reis cuja mísera majestade se sustenta tanto pela própria vaidade quanto pela ignorância de seus súditos. É pateticamente verdadeiro.

A grande literatura é assim: sempre encontramos um fragmento de nós mesmos nela.

domingo, 1 de janeiro de 2012

URUGUAI


Jose "Pepe" Mujica
O Uruguai, nosso simpático vizinho do sul, é um país que, tanto quanto o Brasil, sofreu com a espoliação desmedida de seus colonizadores europeus - tanto espanhóis como portugueses, com a Colônia de Sacramento - e padece até hoje sob os efeitos nefastos desse esbulho. No entanto, diferentemente de nós, combate-os, rechaçando a herança dos jugos imperiais.

Ah, os uruguaios! Invejo-os, sinceramente, não só por possuírem o terceiro maior Índice de Desenvolvimento Humano da América do Sul (0,783) - ficando atrás somente do Chile, com 0,805, e da Argentina, com 0,797 de IDH, e à frente do Brasil (0,718) -, não só por ostentarem a maior taxa de alfabetização do continente, com 97,9% da população com idade superior a quinze anos alfabetizados (a do Brasil é de 90%), mas também por serem um povo cheio de brio, não aculturado, e cujas entranhas não foram tomadas pelo famigerado American Way of Life. O Brasil, por sua vez, não passa de uma servil sucursal estadunidense, essencialmente nos aspectos cultural e comportamental.

Invejo-os, mais ainda, por terem elegido um chefe de governo, José Alberto Mujica Cordano - mais conhecido com Pepe Mujica -, genuinamente de esquerda, expoente na luta contra a ditadura civil-militar uruguaia (1973-1985), e que, para a alegria do povo uruguaio e relativa surpresa minha, depois de eleito, não traiu a sua história.

E invejo-os, por fim, pela notícia abaixo, extraída do Correio Braziliense:


Publicação: 28/12/2011 10:32

Montevidéu - O Senado uruguaio aprovou na madrugada desta quarta-feira, em sua última sessão do ano, um questionado projeto de lei para criar um imposto a proprietários de mais de 2 mil hectares, com o objetivo de combater a concentração da terra.

O projeto - impulsionado pelo presidente José Mujica - foi aprovado por 16 votos de 27, apenas com os votos da governante Frente Ampla (FA, esquerda), e, como já havia sido aprovado em novembro pela Câmara de Deputados, passou ao Poder Executivo para sua promulgação.

O chamado Imposto à Concentração de Imóveis Rurais (ICIR) prevê uma taxa anual de 67 Unidades Indexadas por hectare (cerca de 8 dólares) para as extensões de terra entre 2 e 5 mil hectares; de 100 Unidades Indexadas (12 dólares) o hectare para aquelas extensões entre 5 e 10 mil hectares, e de 135 Unidades Indexadas (16 dólares) o hectare para as propriedades superiores aos 10 mil.

Em todos os casos, serão tributadas aquelas terras com um índice Coneat (utilizado para medir a qualidade do solo) superior a 100 ou equivalente; ou seja, 3 mil hectares com índice 60 não pagariam, mas 1500 hectares com índice Coneat 200 o fariam.

Em sua exposição de motivos, o projeto sustenta que, em dólares correntes, o valor do hectare se multiplicou por nove em 20 anos, e que em dólares constantes se multiplicou por quatro, enquanto esta valorização da terra não se refletiu em nível fiscal.

Segundo os cálculos do governo, o novo imposto afetará menos de 1.500 dos mais de 50.000 produtores do país, que possuem um terço dos 17 milhões de hectares cultiváveis ou produtivos de todo o território.

O governo acredita que o imposto permitirá arrecadar cerca de 60 milhões de dólares anuais que serão destinados a obras de acesso ou de estradas rurais nos departamentos do interior.

O polêmico imposto foi apresentado no dia 22 de agosto pelo governo, após meses de debate dentro da governante Frente Ampla (FA, esquerda) entre os setores que apoiavam o presidente Mujica, que buscavam sua aprovação, com os grupos que respondem ao vice-presidente Danilo Astori.

Enquanto isso, aqui, no paraíso da subserviência, o latifundiário continua intocável.

Nem todo(a) ex-guerrilheiro(a) de esquerda que penou na mão de torturadores e tiranos e, posteriormente, chegou democraticamente ao poder máximo de uma nação, usa seu vasto e emblemático currículo como salvo-conduto para, com o respaldo esmagador de um parlamento submisso e venal, praticar, ele(a) próprio, a tortura (sob novas formas) e a tirania. Lamentavelmente, em alguns lugares isso acontece - e nós sabemos onde.