Chico de Hollanda, de aqui e de alhures (Ruy Guerra)
Parceiro de euforias e desventuras, amigo de todos os segundos, generosidade sistemática, silêncios eloqüentes, palavras cirúrgicas, humor afiado, serenas firmezas, traquinas, as notas na polpa dos dedos, o verbo vadiando na ponta da língua - tudo à flor do coração, em carne viva... Cavalo de sambistas, alquimistas, menestréis, mundanas, olhos roucos, suspiros nômades, a alma à deriva, Chico Buarque não existe, é uma ficção - saibam. Inventado porque necessário, vital, sem o qual o Brasil seria mais pobre, estaria mais vazio, sem semana, sem tijolo, sem desenho, sem construção.
Melhor definição, impossível!
domingo, 31 de agosto de 2003
Cheguei aos 1000 acessos!! Demorou um pouco, mas cá estou: todo orgulhoso desta minha pequena grande façanha. Sinto-me profundamente honrado com cada uma das mil visitas a este humilde blog, meio capenga, de conteúdo muitas vezes áspero e cético, noutras, poético e esperançoso; em ocasiões, escrachado e mal-educado, em outras, erudito e cavalheiro; por vezes, triste e melancólico, de repente, alegre e contagiante; ora simplório, ora complexo; medíocre ou genial. Em suma: paradoxal. Como é intrinsecamente o ser humano. E, afinal, eu sou humano - embora às vezes pareça ter vindo de outro mundo.
O blog é o termômetro emocional do seu autor - o seu espelho, inevitavelmente - e varia suas nuances tanto quanto varia o estado de espírito deste. Daí as inconstâncias dos escritos. Até mesmo a ausência do blogueiro tem o seu significado: desde a simples preguiça de escrever a um estado emocional delicado que bloqueia o pensar e o sentir.
Em momentos mágicos, a palavra flui e brotam posts a toda hora - até mesmo fora de hora. Em momentos trágicos, tudo trava: a emoção, o sentimento, a palavra. Não raro, ocorre o contrário: momentos difíceis nos impulsionam e nos elevam aos píncaros da inspiração - inspiração triste e aflita, é verdade, mas fonte de grandes escritos.
Isso tudo - e muito mais - é BLOG (ao menos assim o é no meu modo de sentir): uma maravilhosa e imperdível oportunidade de "falar sem ser interrompido", expor sentimentos e opiniões, mandar tudo e todos à merda, dizer que estou cagando e andando e, sobretudo, praticar e desenvolver o prazeroso ato de escrever.
sábado, 30 de agosto de 2003
CHÃO DE ESTRELAS
(Orestes Barbosa)
Minha vida era um palco iluminado,
Eu vivia vestido de dourado,
Palhaço das perdidas ilusões.
Cheio dos guizos falsos da alegria,
Andei cantando a minha fantasia
Entre as palmas febris dos corações.
Meu barracão no morro do Salgueiro
Tinha o cantar alegre de um viveiro,
Foste a sonoridade que acabou.
E hoje, quando do sol a claridade
Forra meu barracão, sinto saudades
Da mulher, pomba rola que voou.
Nossas roupas comuns dependuradas
Na corda, qual bandeiras agitadas,
Pareciam um estranho festival.
Festa dos nossos trapos coloridos
A mostrar que nos morros mal vestidos
É sempre feriado nacional.
A porta do barraco era sem trinco,
Mas a lua furando nosso zinco
Salpicava de estrelas nosso chão.
Tu pisavas nos astros distraída,
Sem saber que a ventura desta vida
É a cabrocha, o luar e o violão.
Isso sim é poesia pura. Grande Orestes Barbosa!!! Gênio!!!
Minha vida era um palco iluminado,
Eu vivia vestido de dourado,
Palhaço das perdidas ilusões.
Cheio dos guizos falsos da alegria,
Andei cantando a minha fantasia
Entre as palmas febris dos corações.
Meu barracão no morro do Salgueiro
Tinha o cantar alegre de um viveiro,
Foste a sonoridade que acabou.
E hoje, quando do sol a claridade
Forra meu barracão, sinto saudades
Da mulher, pomba rola que voou.
Nossas roupas comuns dependuradas
Na corda, qual bandeiras agitadas,
Pareciam um estranho festival.
Festa dos nossos trapos coloridos
A mostrar que nos morros mal vestidos
É sempre feriado nacional.
A porta do barraco era sem trinco,
Mas a lua furando nosso zinco
Salpicava de estrelas nosso chão.
Tu pisavas nos astros distraída,
Sem saber que a ventura desta vida
É a cabrocha, o luar e o violão.
Isso sim é poesia pura. Grande Orestes Barbosa!!! Gênio!!!
sexta-feira, 29 de agosto de 2003
Cá estou! Totalmente debilitado, numa leseira de dar dó. Ressacão dos brabos. Resultado (previsível) da festa que ocorreu ontem à noite em homenagem ao dia dos bancários, na AABB, quando, obviamente, eu tomei um porre homérico, daqueles de não lembrar o caminho feito para chegar em casa. Com direito até mesmo a ir embora sem pagar a conta, tal era o meu estado de embriaguez. É verdade! Fui-me sem pagar a cerveja que consumi - que não foi pouca! Mas estava divertido. É muito legal ver gerentes de banco, sempre tão formais e sóbrios, enchendo o rabo de cerveja, falando bobagem e dançando música sertaneja no meio do salão. É realmente hilário! Clímax da noite: vários brindes foram oferecidos pelos mais diversos estabelecimentos comerciais da região para serem sorteados entre os presentes. Mirei uma cesta bonitaça que estava em cima da mesa - que continha uma garrafa de vinho, queijo, entre outras coisas mais - , junto com os demais brindes, e rezei para ser o felizardo a ganhá-la. De repente ouço: 39! É o meu!! Levantei-me num pulo e quase amontoei no chão pois a emoção de ser sorteado me fez esquecer momentaneamente de que eu estava completamente bêbado. Corri para pegar o meu brinde sob os aplausos de todos. Infelizmente não era a tão sonhada cesta, mas pelo volume e peso, logo vi tratar-se de um livro. Pensei: ótimo! Adoro livros. Ao abrir o pacote, senti o puxão-de-orelha divino: A Bíblia Sagrada! A arriação foi grande. O recado foi dado (vou fingir que não entendi e vou continuar bebendo, he, he, he...).
P. S.: Um colega meu, amigavelmente, após eu ter escapulido, pagou a minha conta e, no dia seguinte (hoje), acertei com ele o meu caso de "inadimplência alcoólica". He, he...
segunda-feira, 25 de agosto de 2003
"Esta noite, 500 milhões de crianças dormirão na rua e com fome: nenhuma delas é cubana."
Outdoor espalhado pelos quatro cantos da ilha caribenha que ousou dizer NÃO ao capitalismo, contrariando as mais truculentas formas de persuasão de que lançam mão os EUA para convencer o mundo. Que país no mundo pode fazer o mesmo sem demagogia? Esse foi um dos resultados da revolução. Tire sua conclusão.
PALAVRA DESINVENTADA
"Nada": palavra intrigante
Que quando dita, a desdita
(oh!, palavra maldita!)
Já deixou de ser o que nunca fora
E passou a ser o que não é, nesse instante
E quando falada, imaginada
Ou mal-e-mal cogitada
Ocupa seu espaço no nada
Renuncia à inexistência
Violenta sua própria essência
Deixando-a desamparada
Contradiz filosofias e ciências
Ao fazermos uso do "nada"
Num átimo já não há
- Temos a palavra estuprada
Virgem violentada -
Algo ocupou o lugar
Da palavra desinventada.
domingo, 24 de agosto de 2003
POESIA PARA QUÊ?
(Salgado Maranhão)
Poesia para nos tornarmos infinitos. Não concordo com os que dizem que ela não serve para nada. Isso é niilismo esnobe. Porque tudo nos imprime algum legado. Mesmo uma pedra no caminho, no mínimo, nos deixa a experiência do desvio; e, no máximo, uma topada que nos acorda e nos instiga. Do Renascimento para cá, ao assumir seu destino, o ser humano tem, cada vez mais, dessacralizado a vida. E vai ficando perceptivamente raso; fisiológico; rente aos buracos; escravo das sensações. Com isso perde a noção de sutilezas e até da sobrevivência básica: vai poluindo o ar que respira; vai sujando a água que bebe; vai cavando a cova entre os pés. Por isso, cada rasgo de autêntica poesia nos ensina a desconfiar das certezas. Nos revela, através da linguagem verbal, a constante mutação das coisas. A poesia é essa força sutil que dá vertigem ao esqueleto das palavras.
sábado, 23 de agosto de 2003
DESISTA! (Franz Kafka)
Era de manhã bem cedo, as ruas limpas e vazias, eu ia para a estação ferroviária. Quando confrontei um relógio de torre com o meu relógio, vi que já era muito mais tarde do que havia acreditado, precisava me apressar bastante; o susto dessa descoberta fez-me ficar inseguro no caminho, eu ainda não conhecia bem aquela cidade, felizmente havia um guarda por perto, corri até ele e perguntei-lhe sem fôlego pelo caminho. Ele sorriu e disse:
- De mim você quer saber o caminho?
- Sim - eu disse - , uma vez que eu mesmo não posso encontrá-lo.
- Desista, desista - disse ele e virou-se com um grande ímpeto, como as pessoas que querem estar a sós com seu sorriso.
O sentimento profundo de angústia que este pequeno conto de Kafka é capaz de provocar é assustador. Nos faz mergulhar no inquieto mundo dos pesadelos absurdos, para o qual a única escapatória é o despertar. A literatura que nos suscita tais sentimentos é, inegavelmente, grandiosa.
Cara, passei trabalho, mas acho que consegui deixar o meu blog mais ou menos ajeitado. Sempre quis oferecer alguns links interessantes aos meus ledores, o que no formato anterior tornava-se praticamente impossível. Agora, com o novo template, ei-los ali, à direita.
Descobri, de tanto escarafunchar, como colocar informações referentes aos links; agora é só repousar o mouse sobre eles e, POW!, uma descrição básica sobre o endereço aparece.
Acrescentei uma seçãozinha, ali embaixo, informando o que estou lendo no momento, que será atualizada na medida em que progredirem as minhas leituras.
Todos os posts do meu blog "véio" estão lá em cima, agora em uma única página. Todos os meus devaneios, utopias e insanidades desde quando eu me aventurei a publicar os meus escritos.
Obs.: o sistema de comentários utilizado aqui, o Enetation, está completamente biruta! Sua contagem enlouqueceu de repente: indica que há comentários quando não há, e que não há, quando há! Tá bêbado!! Mas, creio que é momentâneo o porre. É só aguardar com paciência até o fim da ressaca.
quinta-feira, 21 de agosto de 2003
DA SÉRIE "REPETECO"
Dizem que omitir não é tão grave quanto mentir. Discordo!
A omissão é a mentira silenciosa.
A omissão é hipócrita, pois se diz a face nobre da mentira.
A omissão é covarde, pois não se assume.
Ela é repugnante e torna igualmente repugnante quem dela faz uso.
Omitir é lançar mão de um artifício vil para aparentar grandeza de caráter.
Omitir é pior do que mentir. A omissão é o inimigo invisível. A mentira é palpável e passível de enfrentamento.
quarta-feira, 20 de agosto de 2003
sábado, 16 de agosto de 2003
Na minha opinião, ditados populares sempre cumpriram o papel de guarida de néscios. Na hora do aperto, quando a causa está quase perdida sem perspectiva de reversão, bem no meio da fervura do debate acalorado, a luz no fim do túnel surge em forma de aforismo - normalmente sem lastro lógico e coerente, sustentado apenas pela sua repetição insistente ao longo do tempo, o que lhe valeu uma falsa prerrogativa de verdade inquestionável. Sua pronúncia em alto e bom som, em tom de arrogante superioridade, parece encerrar em si mesmo o assunto em questão, garantindo a vitória acachapante a quem dele fez o uso correto, na hora própria. Poucos têm coragem de insurgir-se contra uma máxima bem colocada, mesmo sendo de uma volatilidade absurda tal artifício, pífio e vil; não raro hipócrita e sofista. O erro está em abstrair de uma particularidade casual uma regra universal. É o refúgio dos estúpidos.
Exemplo genial: Chico Buarque, em Bom Conselho, esculacha com o universo proverbial.
Bom Conselho
Ouça um bom conselho
Que lhe dou de graça
Inútil dormir
Que a dor não passa
Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado
Quem espera nunca alcança
Ouça, meu amigo
Deixe esse regaço
Brinque com meu fogo
Venha se queimar
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes antes de pensar
Corro atrás do tempo
Vim de não sei onde
Devagar é que não se vai longe
Eu semeio vento
Na minha cidade
Vou pra rua e bebo a tempestade.
quinta-feira, 14 de agosto de 2003
terça-feira, 12 de agosto de 2003
segunda-feira, 11 de agosto de 2003
PLÁGIO INFAME
(a ignorância nos afasta da infelicidade)
Livros... Livros?
Melhor não lê-los!
Mas se não os lemos
Como sabê-los?
Livros... Livros?
Melhor não sabê-los!
Pois se os sabemos
Como não tê-los?
Livros... Livros?
Melhor não tê-los!
Pois se os temos
Como não vê-los?
Livros... Livros?
Melhor não vê-los!
Pois se os vemos
Como não lê-los?
Livros... Livros?
Melhor não lê-los!
Mas se não os lemos
Como sabê-los?
Livros... Livros?
Melhor não lê-los!
Mas se não os lemos
Como sabê-los?
Livros... Livros?
Melhor não sabê-los!
Pois se os sabemos
Como não tê-los?
Livros... Livros?
Melhor não tê-los!
Pois se os temos
Como não vê-los?
Livros... Livros?
Melhor não vê-los!
Pois se os vemos
Como não lê-los?
Livros... Livros?
Melhor não lê-los!
Mas se não os lemos
Como sabê-los?
Nas cercanias da minha sábia ignorância - sábia, sim! Pois somente ela e o "admiti-la" me levam a combatê-la incessantemente - descobri Eduardo Galeano (já não era sem tempo). Fantástico escritor uruguaio, conhecedor das entranhas desse continente maravilhoso descoberto (usurpado?) por Colombo. A América Latina, historicamente violentada, explorada, aniquilada, é descrita e decantada em todo o seu esplendor e tristeza por este grande proseador. Eduardo Galeano é dono de um texto agradável e escorreito, sem rebuscamentos e abundante em conteúdo. O Teatro do Bem e do Mal, através do qual me foi apresentado o referido autor, é uma aula de política internacional onde os papéis de opressor e oprimido se definem com clareza e nitidez absurdas. Ele sabe e diz o que sabe. Escarafuncha a ferida aberta e expõe as mazelas do continente e do mundo sob o jugo do imperialismo estadunidense. No momento estou lendo Dias e Noites de Amor e de Guerra, do mesmo autor, do qual extraio esta frase que se encaixa com perfeição no nosso atual momento:
"O poder é como o violino: pega-se com a esquerda e toca-se com a direita." (He, he... Sarcástico!)
sexta-feira, 8 de agosto de 2003
quarta-feira, 6 de agosto de 2003
O CICLO
Vaivém no dia-a-dia
Do meio dia
Ao caralho-a-quatro
Diálogo diabólico
Da boca pra fora
Entre o assim assim
E o senão
Puta merda, cara! Isso aí é poesia? Pra mim não passa de medíocre logogrifo e logomaquia. Se existe sentido em tais versos, com certeza o autor guardou-o para si e, de tão bem guardado, aposto que nem ele mesmo é capaz de encontrá-lo. E o tal "poeta", pasmem, já publicou até livros; e foi objeto de matéria em revista cultural de renome. Assim, até eu...
Vejam só este outro "enigma" do mesmo autor:
O PRATO
Uma noite dessas
Numa outra parte
Da noite
Hum corpo qualquer
Entra de cabeça
De qualquer
Jeito adentra
Sem abrir o escuro
E sem pedir licença
Põe-se à mesa do prato voraz
Não é por vir sob o rótulo de poesia que será indiscriminadamente passível de admiração toda e qualquer bobagem que nos jogam à cara. O senso crítico deve prevalecer, e, acima de tudo, o bom-gosto. É tão-somente a minha humilde opinião.
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