segunda-feira, 28 de fevereiro de 2005

FUTUROS AMANTES
Chico Buarque

Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar

E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos

Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização

Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você

domingo, 27 de fevereiro de 2005

AINDA É TEMPO PRA SER FELIZ
(Arlindo Cruz, Sombra e Sombrinha)

Me cansei de ficar mudo, sem tentar, sem falar
Mas não posso deixar tudo como está
Como está você?

Tô vivendo por viver
Tô cansada de chorar
Não sei mais o que fazer
Você tem que me ajudar
Tá difícil esquecer
Impossível não lembrar você
E você como está?

Com o fim do nosso amor
Eu também tô por aí
Já não sei pra onde vou
Quantas noites sem dormir
Alivie a minha dor
E me faça por favor
Sorrir

Vem pros meus braços meu amor, meu acalanto
Leva este pranto pra bem longe de nós dois
Não deixe nada pra depois
É a saudade que me diz
Que ainda é tempo pra viver feliz.
DEFINIÇÃO

sábado, 26 de fevereiro de 2005

SÚPLICA

Venho através deste (post) pedir-vos encarecidamente que, se porventura vierdes a tecer algum comentário cá neste humilde "panfleto virtual", fazei-o da forma que mais vos agradardes, mas, por favor, identificai-vos. Obrigado.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2005

DEVANEIO

Assim como o vazio é a vã tentativa de manifestação física do nada, a ausência não passa de malograda ventura rumo à inexistência. Nem uma, nem outra. Ainda respiro e o coração bate mais forte do que nunca. Penso, logo, existo (e insisto).

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2005

KAFKA, NOVAMENTE!

O romance que nos traz respostas fáceis jamais será um grande romance. O romance que nos tortura, suscitando-nos dúvidas e questionamentos infernais, este sim, é digno de leituras e releituras à exaustão.

É por isso que eu chego a implorar a todo amante da boa literatura para que leia - e releia - Kafka. O romance kafkiano é um eterno enigma a ser desvendado e, paulatinamente, na medida em que o vamos compreendendo, distanciamo-nos mais ainda de sua inatingível elucidação. E é precisamente nisso que reside a intrigante genialidade deste grande artista do século XX. É único, insubstituível e indispensável. É, simplesmente, kafkiano.

Mas tomem muito cuidado ao aventurarem-se a ler Kafka pela primeira vez! O primeiro contato pode ser traiçoeiro e enganador. Vejam o que disse Jorge Luís Borges, grande escritor argentino, sobre o seu primeiro contato com a obra do escritor tcheco:

"Conheci a obra de Franz Kafka em 1917 e agora confesso que fui indigno da obra de Franz Kafka. (...) Recordo que li uma fábula sua, escrita de maneira simples, e me pareceu incompreensível sua publicação. Passei frente à revelação e não a percebi. Também devo confessar que aderia plenamente a este estilo barroco e que buscava imitá-lo. Mais tarde seus livros chegaram às minhas mãos e então me dei conta da minha insensibilidade e do meu erro imperdoável."

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2005

Uma mesinha de ferro, cerveja estupidamente gelada ao centro e amigos verdadeiros na volta. Para mim, é o paraíso! Tecemos um sem-número de teorias e planos mirabolantes para mudar o mundo, falamos da vida alheia - sem que o "alheio" esteja próximo, obviamente -, alteramo-nos na defesa de um ponto de vista, damos o braço a torcer ao perdermos a razão (raramente algum interlocutor, em meio ao debate acalorado, atinge este quase divino grau de humildade, mas acontece, às vezes), discutimos futebol, sonhamos com mulheres impossíveis (...para depois contentarmo-nos com as possíveis), debatemos política com impressionante embasamento teórico (mas na prática a teoria é outra, né, Tamagochi?!), despejamos por sobre a mesa uma inacreditável variedade de piadas, e assim vai...

- Garçom, mais duas, e trás um "estiropor" pra nós, por favor!

Diretamente proporcional à quantidade de cerveja consumida - numa progressão geométrica, digamos assim -, a sinceridade e as palavras soltas ditam as regras do espetáculo. Xingamo-nos uns aos outros: "seu viado", "que bixisse", "vai te cagar", "qual é mesmo o nome daquela fábrica de piscinas?", aquele tipo de tratamento que só entre verdadeiros amigos se admite, e que, sem o qual, aquele adorável e prazeroso encontro perderia toda a poesia que em si carrega.

E o tempo passa numa velocidade assustadora, sem que nos demos conta de que ali, naquelas horas aparentemente vãs e improdutivas, tornamo-nos mais humanos e fomos verdadeiramente felizes.

A felicidade não se encontra no complexo, mas no simples. Complicado é entender isso.

domingo, 20 de fevereiro de 2005

Enquanto os nossos tecnoburocratas insistirem burramente em resolver o problema econômico do Brasil através de medidas pura e simplesmente econômicas, tudo não passará de paliativo para "inglês ver" e brasileiro sofrer - o iníquo oriundo do inócuo. Os economistas - mestres das tergiversações - são tidos como verdadeiros deuses que conjecturam sobre os mais diversos assuntos sem chegar a solução nenhuma! Ingenuamente, seus subterfúgios são altamente considerados por todos aqueles que não entendem patavina do que dizem esses charlatães de nível acadêmico. A economia pela economia não se auto-sustenta. Todos sabemos que, se a economia de uma nação não vai bem, isto é conseqüência direta de uma base político-sócio-cultural precária, insuficiente para que possamos ambicionar um desenvolvimento real. Sem um alicerce bem construído (base social), a edificação (economia), na ausência de uma base sólida que lhe dê sustentação, termina por ruir em pouquíssimo tempo. A economia necessita de uma sociedade saudável e forte para sobreviver e vicejar. Todo plano econômico deveria ter por pré-requisito um real e efetivo plano social, sob pena de surtir efeitos meramente pontuais e momentâneos. Se os pneus estão murchos, o veículo não anda - quando muito, movimenta-se precariamente.

P.S: o problema é que esses filhadasputa sabem perfeitamente disso tudo, mas há intere$$e$ que lhes são prioritários e que não coincidem nem de longe com os reais interesses da sociedade - legítima detentora do poder em uma verdadeira democracia. Mas quem disse que vivemos sob um regime democrático????

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2005

MARIOLA

Poesias Caninas I
Meu cachorro, quando eu chego,
acoa bem diferente.
Às vezes late bom-dia,
às vezes, seja bem vindo,
às vezes parece gente!
Poesias Caninas II
Na companhia do teu cão
tu nunca estarás sozinho.
Não te exigirá nada, não.
Apenas com um olhar pidão
te suplicará carinho.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2005

Deixou-nos segunda-feira! Uma verdadeira dama! Afável, carinhosa, de uma candura indescritível - embora eu, aqui, tentarei quase em vão descrevê-la.

Deixou-nos quase com a mesma delicadeza com que, numa manhã do remoto ano de 1994, adotou-nos como sua família. Sim, porque foi ela quem nos escolheu, e não o contrário. E que honra ser o eleito de tão altiva dama sem, nem de longe, vislumbrar algum mérito para tão dignificante escolha!

Seu olhar era puro e sincero e emanava uma luz intensa de afeto e consideração. Mal sabia ela, na sua generosidade sem fim, que fazia mais bem a nós do que nós a ela. Digamos que sua humanidade era de tal magnitude que ofuscava a pseudo-humanidade de muita gente.

E, como se não bastasse, cuidava da casa e de todos nós - sua família por opção! Era uma heroína! Apenas duas coisas a punham em estado de pânico: foguetes e trovões. Os estrondos mais altos a deixavam acuada e temerosa, talvez por não fazer idéia de onde vinham tais manifestações sonoras. Também pudera, um ser quase perfeito, haveria de revelar alguma fraqueza nalgum momento. Mas também nas suas pequeninas fraquezas residia o seu dom de conquistar-nos a todos, pois só assim, com a oportunidade de tranqüilizá-la e afagá-la nas noites de temporais e comemorações, sentíamo-nos merecedores de seu zelo e, dentro de nossos limites humanos, retribuíamos em parte o apreço que este pequeno ser por nós nutria. E isso, sem que ela o soubesse, fazia-nos um bem imenso!

O câncer a levou, privando-nos de seu convívio tão benéfico e acalentador. Em seus últimos momentos, seu estado era crítico. Estava demasiadamente debilitada, sem poder caminhar, já com apenas uma vista - a vista direita fora retirada em uma cirurgia devido a uma forte infecção -, abatida e triste. Mal supunha que a sua tristeza fazia-nos muito mais tristes ainda. Seu olhar suplicava por um alívio. O sacrifício foi inevitável.

Mariola! Se realmente há um céu de cachorros, sem dúvida alguma tu estás, neste momento, ocupando um lugar de destaque entre os teus comuns. Se não há, é ponto pacífico que Deus, na sua sabedoria e generosidade infinitas, enviou-te ao céu dos homens com a mesma missão que tu tão admiravelmente cá embaixo cumpriste: torná-los melhores e mais felizes - ainda que no céu.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2005

ROL DA FELICIDADE

"Tristeza não tem fim, felicidade, sim" (Tom e Vinícius)

Bill Bar
"Furemo"
Uva Passa
Moda da Casa
Privilege
99440191
Custos
"Encaixadinho"
Vitiligo
Chapinha
Pizza de Atum
Passeio no Carrefour
Veneza
Concursos
Papos Cabeça
Golfinhos
"To com saudade de tu meu desejo..."
Canoas
Lajeado
Cachorros
Etc...
SONHEI

Sonhei-me um poeta
E desperto, indaguei-me: serei?
Que suposto talento eu, para tanto, terei?

Que pretensão fez-me sonhar
E, patético, até cogitar
Que saber debilmente rimar
Far-me-ia poeta? Não sei...

Acredite quem acreditar!
Quanto a mim, não acreditei.
Escrever dói. Cogitar de escrever uma frase sequer me coloca em estado de pânico! Mas ao fazê-lo, após superar estas quase intransponíveis barreiras, sinto-me no céu, no paraíso, acolhido calorosamente pelas mãos suaves de Deus. Lamentável é que esse instante mágico de bem-estar absoluto esvaia-se num átimo, então me ponho apreensivo outra vez na torturante expectativa de brotar-me na mente o próximo texto, frase, palavra. De surgir-me espontaneamente - como que do nada - a próxima idéia, inspiração, motivação. Será que isso é normal? Escritores do mundo, acudam-me!

Mais do que sempre, o prazer e a dor, aqui, se completam e se alimentam.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2005

Neste feriadão de carnaval, a despeito do nordestão querer a todo custo expulsar-me a sopro da praia, agarrei a minha cadeirinha e a minha caixinha de isopor - fiel companheira de areia e sol -, passei o meu protetor solar fator 1.200 e tomei o rumo do mar. Pois não é que, à beira-mar, de súbito, num momento de genialidade - entre uma cerveja e outra - pipocou entre meus neurônios um insólito diálogo do qual originou a seguinte fórmula matemática que elucida com absoluta propriedade o fenômeno Festa no Apê/Som Automotivo:



Onde:



P : é a potência em watts (W) do equipamento instalado no veículo (que, não raro, vale muito mais do que o próprio veículo).



Colcheia : (é como se chama o símbolo musical que está fazendo as vezes de divisor)* : é a qualidade das canções reproduzidas no equipamento em questão.



1 : é uma constante fixa, invariável, imutável e inalterável (fui claro?).



Logo: a potência do equipamento de som do veículo automotor é inversamente proporcional à qualidade do conteúdo reproduzido pelo mesmo.



Genial!



Exemplo:



1.000.000.000.000.000 W = 1/Festa no Apê (Latrino)



ou



50 W = 1/Águas de Março (Tom Jobim)



É... a matemática realmente é uma ciência exata...



*o editor de textos do Blogger não possui símbolos musicais, daí tive de improvisar...

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2005

O livro acima, cujo título fala por si só (mas nem por isso deixarei de registrar minha singela opinião sobre o mesmo), é de leitura absolutamente obrigatória a todos que queiram conhecer a verdadeira gênese do capitalismo mundial. O organizador d'O Livro Negro do Capitalismo, o francês Gilles Perrault, oferece-nos uma primorosa compilação de textos, na maioria de compatriotas seus, que elucidam com cristalina nitidez os meandros deste sistema político que é hoje - e historicamente assim o foi - o grande responsável pela decadência das sociedades, a dizimação de povos, o aviltamento indiscriminado do ser humano, sempre em nome do capital. Injustiça, discriminação, desigualdade, exclusão social, fome, miséria, são algumas das "conquistas" deste modelo econômico que, estranhamente, privilegia exclusivamente o TER em detrimento do SER. Traça-se, nesta obra magnífica, uma autêntica "linha do tempo" do capitalismo, desde o que foi chamado por Adam Smith - terminologia retomada posteriormente por Marx - de "acumulação primitiva", período compreendido entre os séculos XVI a XVIII, abordando com pertinente ênfase as duas grandes guerras, a revolução russa, o Iraque com suas reservas de petróleo, a covardia no Vietnã, chegando até aos dias de hoje com o oportuno tema "Os mortos-vivos da globalização". Sempre sob um ponto-de-vista crítico e esclarecedor que, com freqüência, choca-nos e enoja-nos ao desvendar para o mundo a torpeza absurda e desumana com que atuam os senhores do capital.



É o livro que estou lendo no momento. Uma leitura densa e rica. Recomendo!

terça-feira, 1 de fevereiro de 2005

Menininha está doente:

- Toma a sopa do maninho!

Pra ficar bem sorridente

Pra mandar-me mil beijinhos

Que me deixarão contente

...zero, nove, dois patinhos.
Respeito a tua opinião não formada sobre o assunto, mas discordo totalmente dela!



He, he...

O nosso dia-a-dia reserva-nos cada pérola! E o pior é que essa aí é de minha autoria. Mas, acreditem, foi, a título de molecagem, um despautério intencional!! He, he...