segunda-feira, 30 de junho de 2003

ADRIANA DEFFENTI

Dia desses, estava eu em casa, à noite, degustando o meu pinot e assistindo TV, quando passo pela TVE (um oásis no deserto da mediocridade televisiva) no exato instante em que se inicia o programa Palcos da Vida - excelente programa musical que, a cada semana, traz como atração um artista diferente (geralmente a gravação de algum show ao vivo ou coisa do gênero). Pois nesta noite a atração era uma tal de Adriana Deffenti, que lançou recentemente o CD Peças de Pessoas. É um tanto cruel dizer isto mas, como não tinha nada melhor pra assistir, decidi conferir o desempenho daquela jovem intérprete gaúcha.

Anotem este nome: ADRIANA DEFFENTI

Surpreendente! Esse adjetivo resume tudo: surpreendentemente surpreendente! E como é bom sermos positivamente surpreendidos, particularmente na seara musical, que anda sendo ultimamente tão maltratada, deturpada, desfigurada por pseudo-artistas que por aí campeiam, fazendo sucesso à custa de muito jabá e aparição na globO. A gauchinha é demais. Foi, sem dúvida, um espetáculo de primeira grandeza em termos de interpretação, afinação, e empatia (qualidade indispensável ao bom intérprete). Seu repertório é eclético e muito bem selecionado, dando preferência a compositores gaúchos como Vítor Ramil e Nei Lisboa, pra citar apenas os mais conhecidos, não se furtando a cantar, lá pelas tantas, um Gonzaguinha. E a moça ainda nos reserva gratas surpresas: sua versatilidade artística nos salta aos olhos quando, discretamente, ele apanha num canto suas castanholas e as toca com exímia destreza e perfeição, produzindo um acompanhamento ímpar na canção Balangandans, uma das mais belas do CD. De repente, com uma naturalidade incrível, lá está ela tocando flauta transversal, e assim vai..., uma surpresa atrás da outra. Mas a sua singularidade, ao meu ver, está mesmo na interpretação: os gestos ao cantar, o trabalho corporal, o tom de voz empregado com precisão e na palavra exata, o olhar que revela a emoção do verso pronunciado..., perfeito! Anotem esse nome. Não falta talento para estourar nacionalmente, quanto a oportunidades, infelizmente não posso afirmar o mesmo.

Quem quiser escutar as músicas do CD Peças de Pessoas é só clicar aqui.

Eis a moça:



sábado, 28 de junho de 2003

Recebi por "emeiu" do The Backes on the table e, com certeza, vou participar. Participemos todos!

É MUITO IMPORTANTE SUA PARTICIPAÇÃO!!!

A todos os usuários de celulares:

Nos EUA uma companhia de celulares oferece a seus clientes 2.000 (SIM, DOIS MIL!!!) minutos livres por somente US$ 75.00 = R$ 174,00.

No Brasil, esse custo seria superior a R$1.000,00 - Quem gasta 2.000 minutos/mês utilizando telefone celular no Brasil??? Usuários comuns não, certamente.

E quem o faz, recebe uma fatura em torno de R$1.000,00, o que representa quase 850% a mais que nos EUA.

COMO OS NORTE-AMERICANOS CHEGARAM A ESTE BENEFÍCIO?

Através da conscientização e união da comunidade; não fizeram greves, nem quebraram ou queimaram nada, apenas NÃO UTILIZARAM O TELEFONE durante 5 dias, e as empresas se viram obrigadas a BAIXAR AS TARIFAS OU QUEBRARIAM, num protesto sadio e pacífico, que não penaliza indiscriminadamente outras pessoas nem outras áreas do mercado. Reivindicar um preço justo é um direito legítimo do cidadão, e isso não requer que se fira direitos de outrem.

Os ganhos que as operadoras de telefonia celular obtêm no Brasil, GRAÇAS AO FATO DE NÃO TERMOS O HÁBITO DE MOVIMENTOS POPULARES, são fabulosos! Uma paralisação dos usuários não os fará quebrar, mas as obrigará uma redução no preço dos serviços que prestam.

A proposta é:

DESLIGUEM SEUS CELULARES NO FINAL DE SEMANA, DIAS 05 E 06 DE JULHO 2003, E PEÇAM A TODOS OS SEUS AMIGOS E CONHECIDOS PARA QUE FAÇAM O MESMO!

Envie e-mails com esta mensagem a todo o seu catálogo de endereços, pois somente uma ação consciente e conjunta poderá começar a mudar as coisas no país. Até agora temos esperado sempre que quem está no poder apresente todas as soluções, e elas, quando surgem, só vêm a longo prazo, isso se houver vontade política maior que os interesses econômicos que sejam contrariados pelos benefícios reclamados pela população, o que não acontece na maioria das vezes.

Esta foi a forma escolhida para o cidadão comum mostrar à BCP, Telesp (VIVO), TIM, Telemig Celular, Telemar e outras que estamos conscientes e não vamos continuar nos submetendo à exploração econômica desmedida por efeito de tarifas extorsivas e muito acima do lucro justo para as prestadoras.

Com essa medida acreditamos que poderemos obter uma queda de, pelo menos, 50% no preço das tarifas.

UTILIZE O PODER DA INTERNET EM DEFESA DE SUA CIDADANIA, E TOME POR HÁBITO SE ENGAJAR EM CAMPANHAS QUE VISEM A MELHORAR O NOSSO PADRÃO DE VIDA PARTICIPANDO ATIVAMENTE, COMO NESTE CASO!
Tá feia a coisa no que se refere ao nosso ilustríssimo presidente. Sinceramente, eu não suporto mais aquelas metáforas idiotas usadas amiúde por nosso chefe de estado (já que o nosso legítimo chefe de governo é o superministro Palocci). Elas são pronunciadas em um tom eminentemente sofista e têm a pretensão de encerrarem em si mesmas as questões de que tratam, como se não houvesse alternativa alguma às diretrizes adotadas por Lula no seu (des)governo. A demagogia, sempre vista por mim como um dos grandes talentos da direita conservadora, anda campeando solta lá pelas bandas de Brasília e por entre os quadros do PT.

"Não se dá cavalo-de-pau em avião em pleno vôo."

"Todos esperamos nove meses para nascer, tenham mais paciência."

"Estamos afinando a orquestra para o espetáculo do crescimento."

"A benzetacil dói, mas todos sabemos que cura."

Ora, excelentíssimo, vai à merda!, com todo o respeito. A questão não é o cavalo-de-pau, é a direção que o avião mantém há oito anos, que permanece imutável e sem previsão de alteração de rota.

quinta-feira, 26 de junho de 2003

Cara, se tem alguma coisa mais bela do que poesia, nenhum poeta escreveu ainda!

Particularmente, sou admirador incondicional do Soneto. É um verdadeiro deleite para quem lê e um grande desafio para quem escreve. Distribuir emoção e sentimento num espaço compreendido por quatorze versos, sendo dois quartetos e dois tercetos, é, além de uma arte, um trabalho hercúleo de rima e métrica. Não é em vão que Vinícius, o poetinha (poetaço, na verdade), é um dos meus preferidos. São dele os Sonetos mais belos que conheço, entre os quais os clássicos Soneto da Separação, da Fidelidade e do Amor Total; este último, talvez, o menos conhecido - mas não menos belo -, portanto, ei-lo:

Soneto do Amor Total

Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade
Amo-te enfim com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

A de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

quarta-feira, 25 de junho de 2003

FÚTIL

Tua vida, fundamentada em caprichos
Põe-te, impávido juiz, acima do bem e do mal
Desdenhas o próximo: mero bicho
Pois em nada a ti ele é igual

Ocupas-te em ostentar vis valores
Que te custam (não sabes) a riqueza da alma
Preocupas-te em viver mil amores
Mas que amor, no meio do nada, se acalma?

Tua razão é hipócrita; teu coração, leviano
Não te violentes querendo ser o que não és
É inútil

Tua pequenez te fez material, não humano
Amor algum suportará tal revés
És fútil!

segunda-feira, 23 de junho de 2003

Muitas vezes, ao escrever, falta-nos a palavra, o verbo, o adjetivo, ideal para ser preenchida a derradeira lacuna que dará vida à nossa frase. É espantoso o sentimento que subitamente invade-nos a alma, causando-nos até calafrios, de que só existe um único e exato termo que dará luz e sentido ao que estamos querendo exprimir no momento, e que a sua substituição por um sinônimo qualquer, por mais semelhante e perfeito que este seja, não torna suficientemente claro o que queremos transmitir e não o faz de maneira que nos satisfaça a pleno. Pomo-nos na obrigação de encontrá-lo e resgatá-lo ao nosso convívio, custe o que custar. E vá gramáticas e dicionários! Escrever é como montar um quebra-cabeça em que o bom-gosto e o conhecimento da língua nos guiam para que encontremos a única palavra que poderá se encaixar perfeitamente no contexto idealizado, do contrário, a frase fica inevitavelmente capenga, desagradável e soa muito mal; o quebra-cabeça fica disforme e a imagem não é transmitida com todo o seu devido esplendor. E como é maravilhoso quando, quase que automaticamente, o adjetivo preciso e justo, o verbo exato, o substantivo mágico (os únicos que caberiam) brotam-nos à mente! É quase um orgasmo lingüístico. Quando tal acontecimento sobrevém percebemos que a peça só poderia ser aquela ali mesmo. Encaixe perfeito!

Que ato prazeroso o de escrever! Sem escrever, eu não percebia estas nuances da língua e não desfrutava dos seus deliciosos meandros. Só entende quem escreve. Paulatinamente, vou concluindo o meu quebra-cabeça - mas não é fácil!
Moral da história: tá sobrando tempo pro Bionicão.

A INCOERÊNCIA DO TEMPO!

Não raro, quando o tempo me é escasso
Parecendo não haver tempo pra nada
Não sei realmente o que faço
Para a escassez perdurar prolongada
Pois o tempo em abundância
Tomado pelo próprio tempo
Revela essa tal discrepância:
Sobrando, não sobra um momento
Sequer pro pensamento!
Já o tempo ocupado a pleno
Nos dá, de tal forma, um poder
De torná-lo infinito, podes crer!
E embora pareça pequeno
Sobeja, pra tudo eu fazer
Vê se eu agüento
A incoerência do tempo!

sexta-feira, 20 de junho de 2003

A despeito dos acontecimentos da semana, a vida continua! Sobre tais rumos que a vida toma, ausentando-se para alguns e empobrecendo para outros, quero registrar duas frases de dois grandes amigos:

"A vida é pré-requisito pra morte." (The Backes on the table)

"Somos todos velas acesas, de tamanhos idênticos. Algumas o vento apaga antes de queimarem totalmente." (Tamagochi)

A vida é até deixar de ser, então será foi.

Pra encerrar de vez o assunto, mais uma do poetinha:

A MORTE (Vinícius de Moraes)

A morte vem de longe
Do fundo dos céus
Vem para os meus olhos
Virá para os teus
Desce das estrelas
Das brancas estrelas
As loucas estrelas
Trânsfugas de Deus
Chega impressentida
Nunca inesperada
Ela que é na vida
A grande esperada!
A desesperada
Do amor fratricida
Dos homens, ai! dos homens
Que matam a morte
Por medo da vida.
Modéstia (muito) a parte: Eu sou foda!!!



domingo, 15 de junho de 2003

SONTEO DA DEVOÇÃO

(Vinícius de Moraes)

Essa mulher que se arremessa, fria
E lúbrica em meus braços, e nos seios
Me arrebata e me beija e balbucia
Versos, votos de amor e nomes feios.

Essa mulher, flor de melancolia
Que se ri dos meus pálidos receios
A única entre todas a quem dei
Os carinhos que nunca a outra daria.

Essa mulher que a cada amor proclama
A miséria e a grandeza de quem ama
E guarda a marca dos meus dentes nela.

Essa mulher é um mundo! - uma cadela
Talvez... - mas na moldura de uma cama
Nunca mulher nenhuma foi tão bela

TÁ TUDO ERRADO, COMPADRE!

Sempre entendi por "absurdo" aquilo que não tem pé nem cabeça, ou seja, a minhoca. Apresento-lhes o meu minhocário:

Pago, religiosamente, durante longos 48 meses, a prestação do consórcio de um veículo. Ao quitar a última e derradeira parcela, sonhando em apenas usufruir agora dos benefícios a que faço jus, dão-me conhecimento de que as regras mudaram e que terei de continuar pagando por algo que já paguei (parece loucura, né?)! E ainda, pasmem!, embora tendo direito a uma Kombi zero quilômetro, entregam-me um Fusca usado!* O que é isso? É a hipócrita reforma da previdência com sua infame contribuição de inativos. Que absurdo!

E aquele partido político historicamente de esquerda, de ideologia socialista, que passou a conversa em todos nós, e que, ao chegar ao poder máximo da nação, adotou um comportamento extremamente contraditório, com ênfase no capitalismo internacional; enquanto os antigos conservadores de direita fazem agora oposição, defendendo o povo como se de esquerda fossem? Personagens: aquele, o PT; estes, o PFL e o PSDB. Creio que não exista mais esquerda nem direita, são todos ambidestros, andrógenos, bissexuais (farinha do mesmo saco). Outro absurdo!

Privatização da nossa economia?! Como assim? Resposta: autonomia do Banco Central. O senhor Henrique Meireles, presidente mundial do Bank Boston (diz-me com quem andas...), governará o Brasil sem ter recebido um voto sequer. Ah, desculpem-me, ele tem o voto de confiança do presidente, é claro (e do FMI). Privatização é um termo relativamente brando para o caso. Digamos que o episódio resulte na "internacionalização" de um órgão que é o ícone financeiro e econômico de qualquer nação soberana. Mais um absurdo!

Partindo agora para os absurdos além-fronteira. Já ouviram falar de "guerra preventiva"? O próprio termo já é em si mesmo de uma contradição absurda! É a mais nova técnica estadunidense para evitar guerras futuras (para que deixar para amanhã o que se pode destruir hoje?). Tudo em nome da paz; a guerra não leva a nada, não é mesmo? É o cúmulo do absurdo!

PAREM O MUNDO QUE EU QUERO DESCER!!!

*Os veículos citados têm intuito meramente ilustrativo, por isso utilizou-se os saudosos e já falecidos Kombi e Fusca.

sexta-feira, 13 de junho de 2003

Tu poderás te considerar suficientemente maduro quando entenderes que nem todos são responsáveis pelo mau humor que te desperta de manhã. Vai pra puta-que-te-pariu com este teu azedume!

quinta-feira, 12 de junho de 2003

"Stálin não morreu, virou José Dirceu!"

Achei ótima, essa.

12 DE JUNHO

Dia dos namorados.
Qual o significado
para quem, apaixonado(a),
não a(o) tem ao lado?
Civilizados, nós?! Ha, ha, ha, ha, ha...

Texto do jornalista e escritor Georges Bourdoukan, extraído da revista Caros Amigos.

"(...) Afinal, o que é civilização?

"Civilização é o mundo sem explorados ou exploradores, sem oprimidos ou opressores, sem fronteiras e uma só humanidade; onde o impossível não existe e onde o bem-estar de todos é o objetivo derradeiro do universo; onde a igualdade significa o direito de ser diferente sem sofrer tratamento desigual; onde liberdade significa viver como se achar melhor, sem impedir os outros de proceder como bem entenderem; onde o fim nunca é superior aos meios postos em prática para atingi-lo; onde a prática é mais importante que o discurso ou a crença; onde nenhuma causa é justa quando se alia à morte; onde cada ser humano é um fim em si mesmo; e onde o melhor dos seres é o mais solidário dos seres.

"Como se vê, estamos muito, mas muito longe ainda de viver num mundo civilizado. Dito isto, fica a indagação: por qual perversidade uma mesma humanidade consegue gerar um Bach e um Bush, um Mozart e um Sharon?

"Responda quem puder."

quarta-feira, 11 de junho de 2003

Ventura = Excelente (principalmente de onde vem a calma)

Estou para dizer que é melhor que o Bloco, mas ainda é cedo. Posteriormente emitirei o meu parecer definitivo.

De antemão: estou adorando!

DE LUPICÍNIO A RAUL SEIXAS

(resumo da noite/madrugada de ontem)

Fomos - o Tamagochi, seu sobrinho e eu - tomar umas Bohêmias ontem à noite no posto do Eliseu. Entre uma latinha e outra, muito papo franco e aberto, não omitidas algumas confissões e desabafos que só entre verdadeiros amigos sobrevêm. Lá pela meia-noite, íamos já embora quando escutamos um violão muito bem tocado e vozes nem tão afinadas que ecoavam pela noite taquarense. "Vamos averiguar!", disse o Tamagochi. Ali nos encontramos! Num bar próximo, deparamo-nos com uma turma de velhos boêmios da mais nobre estirpe que tocavam e cantavam de Lupicínio a Raul Seixas, passando por Paulinho da Viola, Chico Buarque, Telmo de Lima Freitas, César Passarinho, Martinho da Vila, entre outros mais. Passamos, naquele momento, a não só beber as Boêhmias, mas também a viver e desfrutar da mais autêntica boemia. O violão no colo do artista parecia mágico, tal era a destreza com que era tocado. Era pedir a música e as notas brotavam do instrumento - só não podíamos deixar o artista sem combustível! Pra finalizar, passava já das quatro da manhã quando pagamos a nossa conta (que foi bem "salgada" devido apenas à necessidade de, entre um verso e outro, molharmos a garganta para melhor cantarmos, né?) e nos despedimos daquele maravilhoso grupo que eu espero encontrar muitas outras vezes pelas noites boêmias da vida. Ê, noitada bem boa!

P. S.: o arrependimento só bate na hora de levantar no outro dia, digo, no mesmo dia, pela manhã. Mas logo se conclui que valeu à pena!
Ontem à noite, o Tamagochi e eu, em meio a várias Bohêmias, filosofávamos um pouco sobre o sentido da vida, até que de repente eis que surge (não sei se resultado da nossa incrível sensibilidade e sabedoria ou dos efeitos provocados pelo álcool em nossas cabeças) esta verdadeira pérola:

Tamagochi: "...o princípio e o fim não se encontram nunca!"

Eu, quase sem pensar: "Encontram-se no meio, Tamagochi!"

"O PRINCÍPIO E O FIM ENCONTRAM-SE NO MEIO."

É a inigualável sabedoria de mesa de bar (sempre muito bem hidratada).

terça-feira, 10 de junho de 2003

Terminei de ler, nesse domingo que passou, O Vermelho e o Negro. Como definir tal obra?

F A N T Á S T I C A, E X T R A O R D I N Á R I A, M A G N Í F I C A, P E R F E I T A ! ! ! ! !

Faltam-me adjetivos para qualificá-la. Acho que os utilizados acima se aproximam bastante do que foi para mim a leitura deste maravilhoso clássico da literatura universal. Uma verdadeira aula de estilo literário aliada a uma espetacular história, digna de um..., de um..., de um Stendhal, ora! Sua grandiosidade não carece de comparações nesta hora. Para todos que amam a boa literatura, é um dever ler O Vermelho e o Negro.

Vejam algumas das passagens do livro que mais me impressionaram (frases e pensamentos do protagonista, Julien Sorel):

"Não tenho nenhuma fidalguia, preciso de grandes qualidades, dinheiro à vista, sem suposições complacentes, bem provadas por ações eloqüentes."

"As paixões não passam de um acidente na vida, mas tal acidente só se cumpre nas almas superiores."

"...Um caçador dá um tiro numa floresta, cai a presa, ele se lança para apanhá-la. Seu calçado fere um formigueiro de meio metro de altura, destrói a habitação das formigas, semeia seus ovos longe das formigas... As mais filosóficas entre as formigas nunca poderão compreender este corpo negro, imenso, temível: a bota do caçador, que de repente penetrou em sua morada com uma incrível rapidez e precedida de um espantoso ruído, acompanhado de centelhas de um fogo avermelhado..."

"Uma mosca efêmera nasce às nove horas da manhã nos dias longos de verão, para morrer às cinco horas da tarde; como compreenderia a palavra noite? Dêem-lhe cinco horas a mais de existência, ela verá e compreenderá o que é noite."
Uma agressão dita "gratuita", na verdade, nunca é gratuita. Há sempre um preço amargo, e quem o paga é a vítima de tal agressão, que automaticamente vira credor do agressor; e um dia, mais cedo ou mais tarde, a dívida terá de ser paga...
Melagrião falando comigo pelo telefone:


"...então eu vou te apresentar uma amiga minha, se bem que eu acho que ela é muito caminhãozinho pra tua areia!"


Ha, ha, ha, ha, ha... Deixa pra mim! Gente finíssima, o Mel.

domingo, 8 de junho de 2003

O circo a globO já vem garantindo há muito tempo; o pão vem agora, com o Fome Zero (for me, zero?*). E assim a gente vai levando.

* usurpado da genial charge do Tacho, no Correio do Povo de hoje.
Sê Humano

Sê aquilo que ninguém vê
Sê aquilo em que ninguém crê
Sê aquilo que ninguém espera que vás ser
Sê o que não esperam jamais ver

Sê pra ti, não pro auditório
Sê a poesia no escritório
Sê ridículo em vez de sério

Sê, na complexidade, o simplório
Sê, na simplicidade, o contraditório
Sê, na sobriedade, o despautério

Sê algo digno de ser
Sê simplesmente tu, diverso de qualquer ser
Sê ser humano, logo, sê humano
Sê! Como haverias de não ser?

sexta-feira, 6 de junho de 2003

Esse foi para alguém que um dia mereceu tais versos, hoje não mais os merece (talvez nunca os tenha merecido...). Mas o valor poético ainda persiste e, só por isso, eu o imortalizo no blog.

MOMENTO II

Ah! Se eu pudesse,
se Deus me concedesse,
se de um poder eu dispusesse
pra que isso acontecesse;
escolher um só momento
que em minha vida eu vivesse.
Que ele se eternizasse!
Se nesse momento sublime
o tempo não passasse...
Com toda a certeza, sem arrependimento,
o momento seria este;
seria este o momento!
O momento em que estou contigo;
o momento em que estás comigo;
quando te olho nos olhos sem poder te tocar,
nossas almas se tocam em meio a essa troca de olhar;
um olhar muito mais do que amigo.
É esse momento bonito
com o qual eu vivo a sonhar
que eu iria eternizar ...

quinta-feira, 5 de junho de 2003

Às vezes me sinto uma cebola dentro de uma salada-de-frutas. Acho que todos nós um dia já tivemos essa desagradável sensação de ser um estranho no ninho, de percorrer em sentido contrário uma via de mão-única. Essa sensação estranha que nos aflige por vezes nada mais é do que a demonstração cabal de que, inegavelmente, somos todos diferentes uns dos outros. Graças a Deus! Mas eu sou desconfiado por demais e me surpreendo, às vezes - em meio aos meus desvarios filosóficos - analisando o quão diferente eu sou da maioria das pessoas que conheço e com que convivo.

Senão, vejamos:

Adoro Chico Buarque e Tom Jobim, e conheço pouquíssimas pessoas da minha geração que admiram e ouvem esses dois mestres da MPB. Detesto forró, sertanejo, tchans e afins, funk e todo esse lixo que a mídia despeja aos borbotões sobre a cabeça desse povo ingênuo e inculto, ávido por diversão e distração fácil para esquecer as mazelas de suas tristes vidas.

Não sei dançar. Não só não sei, como odeio dançar. Não vejo a menor graça em ficar sacudindo o corpo de um lado para o outro, como se fosse uma marionete epilética, ao som de "músicas" pobres e ridículas (quase toda música dançante é pobre e ridícula). Música é arte, e arte tem de ser saboreada como se fosse um bom vinho: sentir o seu aroma, perceber o seu buquê, sorver pacientemente todo o líquido da taça para poder entendê-lo e admirá-lo. É a arte de bem-degustar vinhos e músicas. Nosso paladar agradece (e nossos ouvidos também).

Não gosto de futebol. Confesso que nos tempos de outrora já fui o gremista mais fanático que eu conheci. Mas eu evoluí - as pessoas amadurecem, ficam mais inteligentes e evoluem, certo? Acho o cúmulo da insanidade mental ficar discutindo aos berros, em vezes tomado por assustadora cólera, a vida de um bando de semi-analfabetos que ganham cem vezes o que a maioria de nós ganha, para simplesmente correr atrás de uma bola uma ou duas vezes por semana! É irracional. O cara grita, xinga a mãe, briga e até mata em nome de um fanatismo sem precedentes. Os estádios transformam-se em arenas e os torcedores em feras que se agridem para, em síntese, patrocinarem o carro importado e os $100.000,00 de um "Joãozinho" qualquer.

Odeio gincana. Acho uma grande perda de tempo e um lamentável desperdício de recursos esse tipo de "joguinho" onde se mobilizam várias pessoas em torno do objetivo fútil de cumprir tarefinhas idiotas. Se as pessoas aproveitassem essa capacidade de mobilização que inegavelmente possuem para lutar por uma sociedade melhor e mais justa, descobririam a força que têm e da qual nunca fizeram o devido uso.

Sinto necessidade de solidão. Não sofrer de solidão, mas estar só comigo mesmo. Penso, reflito, leio, escrevo. São momentos de autoconhecimento que me são indispensáveis e dos quais não abro mão por nada.

Arrisco-me a causar a impressão de uma certa dose de pedantismo - que, acreditem, é apenas impressão -, mas realmente adoro ler. Dê-me uma boa leitura e eu estarei no paraíso. Num país onde ninguém lê, mais do que nunca me sinto a tal cebola referida inicialmente. Kafka, Dostoiévski, Scliar, Saramago, Vinícius, Veríssimo (pai e filho), Orwell, Assis Brasil, Machado, Tolstói, Graciliano, Stendhal, Dante, Boff, Roberto e Paulo (ambos, Freire), Quintana (e o PC tá lá, né?!), Bukowski, Kropotkin, Platão, entre outros mais que nos transportam a vários mundos com suas palavras mágicas.

Abaixo Paulo Coelho (que vergonha ABL!)!

Não assisto novela, nem Faustão, nem o raio-que-o-parta!

Admiro o novo, o corajoso, o diferente. Admiro todo aquele que não tem medo nem receio de expor sua forma de pensar, de agir, de existir e de se fazer perceber pelo mundo, por mais insólita que estas possam parecer aos olhos dos medíocres que se dizem "normais" (meros componentes da salada-de-frutas). Admiro a autenticidade sem disfarces, sem máscaras. Tem personalidade todo aquele que não lança mão da hipocrisia e adota o comportamento que sua a consciência dita, sem se importar se é de bom-tom aos olhos mesquinhos da sociedade hipócrita. Admiro a cebola!

Abomino status quo, status, lugar-comum, conveniências, tradição, pseudovalores, hipocrisia.

Adoro discutir política e, quixotescamente, acredito que assim poderemos mudar o mundo. Torná-lo melhor para todos, inclusive para os que não gostam de Chico e Tom, adoram dançar músicas ridículas, são fanáticos por futebol, participam de gincanas, nunca ficam sós, não são afeitos à boa leitura, idolatram Paulo Coelho, odeiam política, escondem-se no lugar-comum, adoram salada-de-frutas e, principalmente, detestam cebola.

terça-feira, 3 de junho de 2003

Quem faz boa música gosta de boa música. De forma alguma poderia ser diferente. E não é surpresa para mim descobrir que os componentes da banda Los Hermanos são fãs de Chico Buarque e sua obra, e que têm particular admiração pelo álbum Construção - que, na minha opinião, é a obra-prima do Chico. Diz-me o que escutas e eu te direi quem és. A influência não poderia ser melhor.

E por falar em Chico e no seu disco Construção, de 1971, transcrevo-lhes a primeira faixa deste álbum fantástico, chamada Deus lhe Pague. Esta canção/poesia revela todo o asco que o compositor nutria pelo regime político de então - que nos impingiu os anos mais negros da nossa história sob o autoritarismo ferrenho do general Médici - onde, de forma irônica, o compositor agradece a um "benfeitor" oculto por tudo que é bom e que deveria tacitamente nos pertencer, e também por tudo que é inequivocadamente ruim (aqui reside o ápice da ironia na composição), mas que nos é imposto de forma arbitrária.

O ritmo da música é extremamente tenso e angustiante do princípio ao fim. E, na medida em que os versos vão sendo pronunciados, o ritmo da canção torna-se mais intenso e acelerado e o som vai ficando gradualmente mais denso e sufocante, o que nos causa a nítida impressão de estarmos no olho de um furacão de desesperos, do qual parece impossível escapar, salvo através da morte, como encerra o último verso antes do refrão final. É música para sentir, não apenas ouvir. É coisa de gênio!

Deus lhe Pague (Chico Buarque)

Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir
Deus lhe pague

Pelo prazer de chorar e pelo estamos aí
Pela piada no bar e o futebol pra aplaudir
Um crime pra comentar e o samba pra distrair
Deus lhe pague

Por essa praia, essa saia, pelas mulheres daqui
O amor malfeito, depressa, fazer a barba e partir
Pelo domingo, que é lindo, novela, missa e gibi
Deus lhe pague

Pela cachaça, de graça, que a gente tem que engolir
Pela fumaça, desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes, pingentes, que a gente tem que cair
Deus lhe pague

Por mais um dia agonia, pra suportar e assistir
Pelo rangido dos dentes, pela cidade a zunir
E pelo grito demente que nos ajuda a fugir
Deus lhe pague

Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras pra nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir
Deus lhe pague.

segunda-feira, 2 de junho de 2003

Fato extraordinário que merece registro:

Assisti à aula até o fim, hoje! Não me perguntem como consegui (não quero tocar no assunto).

Agora vou tomar o meu Pinot. Bom-dia!

domingo, 1 de junho de 2003

O que diria o líder sindical Lula, lá em meados dos anos 70, se, em meio a uma negociação entre sindicato e empregadores, um presidente de alguma indústria metalúrgica do ABC paulista lhe dissesse que "não importa se temos fome hoje, a semente foi plantada e temos de esperar ela crescer e dar frutos"? Pois foi essa metáfora absurda e infeliz que o presidente Lula usou na tentativa de ludibriar o povo brasileiro em relação à cruel política econômica aplicada no país. Pô, Lula, vê se te enxerga! O outro mandou que esquecêssemos tudo o que ele tinha escrito. Agora não me venha Vossa Excelência pedir-nos para que esqueçamos tudo o que o senhor viveu, né?! Luís, intervém! Senão descarrila o trem!